26.5.09
Saudade do Maranhão
Pedreiras é o lugar mais bonito do mundo quando falta luz. A pobreza se amarela de lampião. Sem o som do rádio pode-se ouvir melhor bicicletas. É um lugar tão pobre que não existem pedintes. Puxam, empurram, carregam. Oito, nove filhos. Na falta de qualquer remédio se cheirava álcool. Até São Luis eram oito horas de caçamba. Morria-se muito de distancia.
O puteiro atendia por `Formiga`. Raparigas com um cabelo que não queriam. Moças quase bonitas e caridades interessantíssimas. Lavam os clientes antes de deitar-se com eles. Depois encaminham para porta e acenam adeus de cima de uma calçada alta. Parecem namoradas. Perdi minha virgindade lá. O velho Borgneth me esperava em casa para ouvir que eu era rapaz e poderia andar de relógio. Todo filho ganhava um Mido quando virava homem.
Rivotril
Todas as manhãs minha mãe acordava chorando. Não acordava e chorava. Acordava chorando. Dava vontade de bater nela, ia até a cozinha e lhe trazia um copo de água. Ela queria morrer. Seus olhos pareciam buracos. Ficou com mãos de gente velha. Emagreceu e comprou bolsas. Parou de ouvir discos. Dias dentro de quartos azul escuro. Deixou de molhar plantas. A TV da sala estragou, ficou estragada. Certa vez tropeçou no escuro, caiu aos pés do ar condicionado, bateu a cabeça na parede. Pediu ajuda, estava chorando. Eu fingi que estava dormindo.
AsAreiAs
1 + 1 = 1
Vida é feita das nossas pontas.
Fronteira da carne, limite da gente.
Onde acabo,
e outra coisa começa.
Frutas viram chão.
Jasmim lágrima.
Letra livros.
Homens redor.
Se sento na cadeira,
viro madeira.
Sou o vinho que bebo,
Lua que não alcanço,
janelas que abri, ou não.
Milhões de copos de água.
Cigarro, pai, mãe, psiquiatra.
Existir é colecionar esbarrões.
Viver é a escolha do que tocar.
Maturidade é encostar nas coisas certas:
quero chegar em mim mesmo.
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