26.9.09

Comer formiga faz bem pra vista


No meu quarto, volta das três, luz bate interessante pela janela. Exato de dar ver dança do tempo. Poeira branca cochilando em pelos de braço. Tudo de Sol. Ventinho qualquer espanta. Bom de brincar. Assustar gostoso de tão simples. Pensar que por mera perspectiva essas levezas não são prédios, países. Ali vi Deus, entendi.

Logo depois comecei. Assassinava formigas por conhecimento. Realizei mortes complicadas. Afogamentos em cola colorida, amputações. Fome. Deixar perdida tarde inteira, prender em papel e queimar. Me irritava aquele excesso de joelhos e o fato de que não gritam ou rezam terços. Vez peguei pote vidro. Enchi de açúcar, prendi várias. Guardei por duas semanas só pra ver tudo acabar.

13 comentários:

Ludmila Clio disse...

Até que enfim vc voltou!!!

Nas sutilezas da vida é que notamos o quão desnecessárias são certas coisas...

e se eu fosse uma dessas formigas trancafiadas no potão de açúcar, também teria acabado com tudo...

mas ainda tenho me sentido açúcar. Doce? Não. Consumida pela vida...
Abração!!

Daniel. disse...

o flavio, bem q vc disse e de fato eu gostei muito, cara. estou sentindo, bem ao longe o cheiro e o verde e a chuva do sertão.. em frases como essas: "Exato de dar ver dança do tempo". como eu também te disse eu botava briga com as maiores.. mas enfim: tu tem as manha!

Caetano disse...

quando eu era um menino bom, vi o filme "querida, encolhi as crianças", a cena que a formiguinha, quando aparece o escorpião, sacrifica-se pra salvar os meninos pequeninos me comoveu profundamente. Pois é, desde esse dia, parei de matar formigas. Elas são amigas.

o primeiro texto: sim, são nessas horas que realmente vemos Deus.

beijo, irmão

Anônimo disse...

esse ficou do caralho!!!

Paixão, M. disse...

primeiro de tudo, aleluia.

segundo, puuuuutaquepariu. é bem exato esse tipo de texto que mexe profundo comigo. é muita luz, é muita imagem, puro vitral.

eu sacrificava moscas. tirava as asas e colocava numa caixinha de fósforos para elas irem embora nunca mais.

bjão!

Vinicius Langa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roberta Malta disse...

Queimada, afogada ou coberta de açúcar, morte é morte. Óbvio ou escondido, Deus é Deus. Deus e morte sempre nos intrigando e rendendo boas divagações e bons textos, como este.

um beijo grande procê Flávio. Tenho que aparecer por ai pra curtir um sambinha bom com vocês...

Daniela Parajara disse...

as pessoas falando "que bom que você voltou" e eu querendo dizer "que bom que você comentou lá e eu vim aqui te ler!"...
Concordo com Milena. coisa boa de ler, ver e sentir!

sempre matei formigas por pura diversão, minha mãe sempre disse que era por pura covardia.

bêjo procê!

Fernanda Fassarella disse...

Eu me sinto leve lendo tudo isso. Não sei por quê. A culpa é sua. Poeira em pelos de braço. Que percepção, meu Deus! Formigas morrendo de açúcar! Tudo isso me faz rir por horas e dias e semanas, só de lembrar.

Um beijo, desaparecido do mapa!

Lilianne Mirian' disse...

Pobres Formiguiinhas.
Acho que elas sofrem tb.

beiijo'

Ludmila Clio disse...

Sumiu de novo! Hump!

Daniel. disse...

coe flavio..esperamos atualizações.abraço

Cristiano Contreiras disse...

Puxa, Flavio. Você tem um dom completo, peculiar e interessante - sua verve literária é pulsante, cativa e tem um conceito bem diferente de tudo que já li. Gostei do blog! te seguirei, abraço!