7.7.10

Comadre invisíveis


Ave Boazinha Roupa Colorida das Almas. Mundo virou e ela parada. Carrego até hoje essa mesma pedra invisíveis. A casa dela de grades brancas e meninos enterrando terra em garrafas de vidro verde, desses que não existem mais. Eu nove anos. Ela comadre rezadeira dos altos. Acreditava em Nossa Senhora e todos os santos direitinho.

Trouxemos o café preto e foi aceso. Estalou mão nos meus quatro cantos e beijou uma planta na boca. Abriu porta dos mortos com segurança do movimento. Recantou a luz e me despejou flores muito lindas. É pela ceguidão do inimigo. Vingança paralisada e certezas grossas. Caminho aberto no céu e chão. Vai silêncios e cuidado com os objetos e olhos. Se precisar deixar, volta.

6.7.10

Mãe preta


Lizete era breves. Cozinheira e lenços coloridos. O que ganhava dividia em dois. Metade dela, metade dele. Todo mês Zé Roberto aparecia, almoçava, banhava e ia. Mas em setembro sumiu. Foram dois anos varrendo casa sem cantar até doutor descobrir. O filho morto estava preso. Voltou. Magro. Morreu de AIDS. Desde então ela acabou. Até tentou se distrair com crediários. Comprou eletrodomésticos e discos do RPM. Depois não queria mais receber. Ia para rua distribuir dinheiro para meninos jogarem fliperama. No máximo ria de filmes de terror ou da bobissa dos pombos. Teve feridas nas pernas. Atendeu o telefone e cuspiu sangue. Morreu de mãe. Deixou na cômoda meses de salário enrolados no lenço preto que ela só usava nos dias de festa.

5.7.10

Corredor - sobre pedras e borboletas


Foi triste o fim dos ramalhetes, mas quem foi flor perde viço não. Agouro desaguou e hoje empurra. Suas mãos agora só levam por bonitos. Lembrança luz. Guardei tudo em garrafas de Coca-Cola e uso conforme. Noites salvam tardes. Manhãs amanhãs. Moedas serventia em dia pontes. Tempo sequer sabe o que vai ou fica. Travessia levou mãos, ganhei pés. Caminho maior que chegada. Faz frio, sono. Algumas coisas parecem ser mais azuis que deviam. Mas eu gosto de azul. Lamas minhas. Deixa. Do amargo se vê melhor o doce. Deve haver pão em algum lugar de minha mesa.

1.7.10

Para tormenta, cata-ventos.


Fogo é coisa de função. Não há tormenta mais. Única capaz de realizar inexistência. Por isso precisamos acender mais fósforos. Deixe o leite ferver e derramar e machucar. Queimar os dedos por experiência. Provocar demências que comprovem o secar de tudo. Em Cachoeiro de Itapemirim é madrugada e cinco cadeiras vazias. Mundo não volta. Por aqui também não continua. Entornaram a Lua, quebraram as canetas. Lembranças presas dentro de coisas. Braços e pernas parados. Os discos morreram. Copos de água e comprimidos.

Mas lagrimas alimentam flores, essa é a máquina. Me distraio observando uma queimadura no braço que um acidente deixou. É bonito ver que o corpo ainda funciona, os cabelos crescem. Vou entrar em todos quando sair de mim e tudo vai ficar bem: milhões de pessoas cortando o cabelo e a barba, de vez – mudança.

Ps. Que o seu rosto seja coberto de borboletas e livros de sabedoria. Que sua vida encontre a ausência total do cálculo. Para tormenta, cata-ventos! Sempre.